sábado, 20 de novembro de 2010

Loucos e Santos

Oscar Wilde

Loucos e Santos - Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.


I choose my friends not by their skin or other archetype, but by the pupil.
They have to have questioning shine and unsettled tone.
I'm not interested in the good spirits or the ones with bad habits.
I'll stick with the ones that are made of me being crazy and blessed.
From them, I don't want an answer, I want to be reviewed.
I want them to bring me doubts and fears and to tolerate the worst of me.
But that only being crazy.
I want saints, so they dount doubt differences and ask for forgiveness for injustices.
I choose my friends for their clean face and their soul exposed.
I don't just want a man or a skirt, I also want his greatest happiness.
A friend that doesn't laugh together doesn't know how to cry together.
All my friends are like that, half foolish, half serious.
I don't want forseen laughter or cries full of pity.
I want serious friends, those that make reality their fountain of knowledge, but that fight to keep fantasy alive.
I don't want adult or boring friends.
I want half kids and half elderly.
Kids, so they don't forget the value of the wind blowing on their faces and elderly people so they're never in a hurry.
I have friends to know who I am.
Then seeing them as clowns and serious, crazy and saints, young and old, I will never forget that 'normalcy' is a steril and imbecil illusion.

domingo, 31 de outubro de 2010

NAIA

Daiel Piza

Ontem vi pela primeira vez minha avó de cabelos brancos. Aos 98 anos, estava sempre impecável, cabelos tingidos, anéis e broche, batom e perfume, com uma vaidade singela que era um dos segredos de sua longevidade. Ontem também a vi pela primeira vez sem o sorriso de sempre, o bom humor que nunca ia embora, movido pelo coração mais puro que já conheci ou conhecerei. Minha vó, Nair – ou Naia, como carinhosamente chamávamos, ou bisa Naia como era chamada por nossos filhos – morreu na madrugada do dia 26 e foi enterrada à tarde no Cemitério de Congonhas.
Tive a sorte de ter duas avós dessas que parecem de ficção infantil. A vó Toneta, Antonieta Palumbo Schievano, era a materna. Tinha uma gargalhada deliciosa, usava expressões italianas, cozinhava massas como ninguém, adorava ir ao cinema. Vó Nair, Nair Gomes Teixeira de Toledo Piza, era mãe do meu pai. Era professora de português e era também impecável na caligrafia e na gramática. Associávamos a ela muitas iguarias também: as balas de café – que fez até pouco tempo atrás para cada um dos quinze bisnetos que faziam aniversário, como antes para cada um dos sete netos e antes para cada um dos dois filhos -, o bolo de fubá, o sequilho, a espuma flutuante (ou ovos nevados ou ilha flutuante, na qual punha um toque de canela definitivo), etc. Sempre que dormíamos nas casas dessas avós, voltávamos mais gordos de carinho.
Era uma mulher pequena, bondosa e ingênua, que por isso chegou a ser enganada por gente na rua ou assaltada no ônibus, mas, até julho passado, nunca deixou de morar sozinha. Estava sempre ativa, arrumada, bem disposta, ia a pé ao banco e ao supermercado; de vez em quando, encarava sete horas de estrada para passar uns dias na fazenda do genro, onde cuidava do pomar. Se ficava doente ou tinha uma fratura, fazia o que mandava o médico – como seu filho – e logo se recuperava. Sobreviveu 32 anos ao meu avô, Amilton, em parte graças ao marca-passo que pôs nos anos 90, e porque nunca se tornou a idosa ranzinza, nunca ficou reclamando da vida; no máximo, nos últimos anos, se queixava de ter perdido o paladar, veja só.
Pertencia a uma época em que as pessoas eram bem educadas e confiáveis antes de mais nada, e era extremamente amorosa com cada um dos familiares. Em enterros, choramos em boa parte por egoísmo, porque nos tiraram um pedaço de nossa vida, ou porque sentimos de novo que a morte é a única certeza que não pode ser sonegada e iguala a todos, homens e mulheres, ricos e pobres, bons e maus. No caso da vó Naia, a causa da morte foi apenas o tempo, nada mais. Ela viveu quase um século e foi sempre feliz.

sábado, 18 de setembro de 2010

But Will It Make You Happy?

STEPHANIE ROSENBLOOM

A two-bedroom apartment. Two cars. Enough wedding china to serve two dozen people.

Yet Tammy Strobel wasn’t happy. Working as a project manager with an investment management firm in Davis, Calif., and making about $40,000 a year, she was, as she put it, caught in the “work-spend treadmill.”

So one day she stepped off.

Inspired by books and blog entries about living simply, Ms. Strobel and her husband, Logan Smith, both 31, began donating some of their belongings to charity. As the months passed, out went stacks of sweaters, shoes, books, pots and pans, even the television after a trial separation during which it was relegated to a closet. Eventually, they got rid of their cars, too. Emboldened by a Web site that challenges consumers to live with just 100 personal items, Ms. Strobel winnowed down her wardrobe and toiletries to precisely that number.

Her mother called her crazy.

Today, three years after Ms. Strobel and Mr. Smith began downsizing, they live in Portland, Ore., in a spare, 400-square-foot studio with a nice-sized kitchen. Mr. Smith is completing a doctorate in physiology; Ms. Strobel happily works from home as a Web designer and freelance writer. She owns four plates, three pairs of shoes and two pots. With Mr. Smith in his final weeks of school, Ms. Strobel’s income of about $24,000 a year covers their bills. They are still car-free but have bikes. One other thing they no longer have: $30,000 of debt.

Ms. Strobel’s mother is impressed. Now the couple have money to travel and to contribute to the education funds of nieces and nephews. And because their debt is paid off, Ms. Strobel works fewer hours, giving her time to be outdoors, and to volunteer, which she does about four hours a week for a nonprofit outreach program called Living Yoga.

“The idea that you need to go bigger to be happy is false,” she says. “I really believe that the acquisition of material goods doesn’t bring about happiness.”

While Ms. Strobel and her husband overhauled their spending habits before the recession, legions of other consumers have since had to reconsider their own lifestyles, bringing a major shift in the nation’s consumption patterns.

“We’re moving from a conspicuous consumption — which is ‘buy without regard’ — to a calculated consumption,” says Marshal Cohen, an analyst at the NPD Group, the retailing research and consulting firm.

Amid weak job and housing markets, consumers are saving more and spending less than they have in decades, and industry professionals expect that trend to continue. Consumers saved 6.4 percent of their after-tax income in June, according to a new government report. Before the recession, the rate was 1 to 2 percent for many years. In June, consumer spending and personal incomes were essentially flat compared with May, suggesting that the American economy, as dependent as it is on shoppers opening their wallets and purses, isn’t likely to rebound anytime soon.

On the bright side, the practices that consumers have adopted in response to the economic crisis ultimately could — as a raft of new research suggests — make them happier. New studies of consumption and happiness show, for instance, that people are happier when they spend money on experiences instead of material objects, when they relish what they plan to buy long before they buy it, and when they stop trying to outdo the Joneses.

If consumers end up sticking with their newfound spending habits, some tactics that retailers and marketers began deploying during the recession could become lasting business strategies. Among those strategies are proffering merchandise that makes being at home more entertaining and trying to make consumers feel special by giving them access to exclusive events and more personal customer service.

While the current round of stinginess may simply be a response to the economic downturn, some analysts say consumers may also be permanently adjusting their spending based on what they’ve discovered about what truly makes them happy or fulfilled.

“This actually is a topic that hasn’t been researched very much until recently,” says Elizabeth W. Dunn, an associate professor in the psychology department at the University of British Columbia, who is at the forefront of research on consumption and happiness. “There’s massive literature on income and happiness. It’s amazing how little there is on how to spend your money.”

CONSPICUOUS consumption has been an object of fascination going back at least as far as 1899, when the economist Thorstein Veblen published “The Theory of the Leisure Class,” a book that analyzed, in part, how people spent their money in order to demonstrate their social status.

And it’s been a truism for eons that extra cash always makes life a little easier. Studies over the last few decades have shown that money, up to a certain point, makes people happier because it lets them meet basic needs. The latest round of research is, for lack of a better term, all about emotional efficiency: how to reap the most happiness for your dollar.

So just where does happiness reside for consumers? Scholars and researchers haven’t determined whether Armani will put a bigger smile on your face than Dolce & Gabbana. But they have found that our types of purchases, their size and frequency, and even the timing of the spending all affect long-term happiness.

One major finding is that spending money for an experience — concert tickets, French lessons, sushi-rolling classes, a hotel room in Monaco — produces longer-lasting satisfaction than spending money on plain old stuff.

“ ‘It’s better to go on a vacation than buy a new couch’ is basically the idea,” says Professor Dunn, summing up research by two fellow psychologists, Leaf Van Boven and Thomas Gilovich. Her own take on the subject is in a paper she wrote with colleagues at Harvard and the University of Virginia: “If Money Doesn’t Make You Happy Then You Probably Aren’t Spending It Right.” (The Journal of Consumer Psychology plans to publish it in a coming issue.)

Thomas DeLeire, an associate professor of public affairs, population, health and economics at the University of Wisconsin in Madison, recently published research examining nine major categories of consumption. He and Ariel Kalil of the University of Chicago discovered that the only category to be positively related to happiness was leisure: vacations, entertainment, sports and equipment like golf clubs and fishing poles.

Using data from a study by the National Institute on Aging, Professor DeLeire compared the happiness derived from different levels of spending to the happiness people get from being married. (Studies have shown that marriage increases happiness.)

“A $20,000 increase in spending on leisure was roughly equivalent to the happiness boost one gets from marriage,” he said, adding that spending on leisure activities appeared to make people less lonely and increased their interactions with others.

According to retailers and analysts, consumers have gravitated more toward experiences than possessions over the last couple of years, opting to use their extra cash for nights at home with family, watching movies and playing games — or for “staycations” in the backyard. Many retailing professionals think this is not a fad, but rather “the new normal.”

“I think many of these changes are permanent changes,” says Jennifer Black, president of the retailing research company Jennifer Black & Associates and a member of the Governor’s Council of Economic Advisors in Oregon. “I think people are realizing they don’t need what they had. They’re more interested in creating memories.”

She largely attributes this to baby boomers’ continuing concerns about the job market and their ability to send their children to college. While they will still spend, they will spend less, she said, having reset their priorities.

While it is unlikely that most consumers will downsize as much as Ms. Strobel did, many have been, well, happily surprised by the pleasures of living a little more simply. The Boston Consulting Group said in a June report that recession anxiety had prompted a “back-to-basics movement,” with things like home and family increasing in importance over the last two years, while things like luxury and status have declined.

“There’s been an emotional rebirth connected to acquiring things that’s really come out of this recession,” says Wendy Liebmann, chief executive of WSL Strategic Retail, a marketing consulting firm that works with manufacturers and retailers. “We hear people talking about the desire not to lose that — that connection, the moment, the family, the experience.”

Current research suggests that, unlike consumption of material goods, spending on leisure and services typically strengthens social bonds, which in turn helps amplify happiness. (Academics are already in broad agreement that there is a strong correlation between the quality of people’s relationships and their happiness; hence, anything that promotes stronger social bonds has a good chance of making us feel all warm and fuzzy.)

And the creation of complex, sophisticated relationships is a rare thing in the world. As Professor Dunn and her colleagues Daniel T. Gilbert and Timothy D. Wilson point out in their forthcoming paper, only termites, naked mole rats and certain insects like ants and bees construct social networks as complex as those of human beings. In that elite little club, humans are the only ones who shop.

AT the height of the recession in 2008, Wal-Mart Stores realized that consumers were “cocooning” — vacationing in their yards, eating more dinners at home, organizing family game nights. So it responded by grouping items in its stores that would turn any den into an at-home movie theater or transform a backyard into a slice of the Catskills. Wal-Mart wasn’t just selling barbecues and board games. It was selling experiences.

“We spend a lot of time listening to our customers,” says Amy Lester, a spokeswoman for Wal-Mart, “and know that they have a set amount to spend and need to juggle to meet that amount.”

One reason that paying for experiences gives us longer-lasting happiness is that we can reminisce about them, researchers say. That’s true for even the most middling of experiences. That trip to Rome during which you waited in endless lines, broke your camera and argued with your spouse will typically be airbrushed with “rosy recollection,” says Sonja Lyubomirsky, a psychology professor at the University of California, Riverside.

Professor Lyubomirsky has a grant from the National Institute of Mental Health to conduct research on the possibility of permanently increasing happiness. “Trips aren’t all perfect,” she notes, “but we remember them as perfect.”

Another reason that scholars contend that experiences provide a bigger pop than things is that they can’t be absorbed in one gulp — it takes more time to adapt to them and engage with them than it does to put on a new leather jacket or turn on that shiny flat-screen TV.

“We buy a new house, we get accustomed to it,” says Professor Lyubomirsky, who studies what psychologists call “hedonic adaptation,” a phenomenon in which people quickly become used to changes, great or terrible, in order to maintain a stable level of happiness.

Over time, that means the buzz from a new purchase is pushed toward the emotional norm.

“We stop getting pleasure from it,” she says.

And then, of course, we buy new things.

When Ed Diener, a psychology professor at the University of Illinois and a former president of the International Positive Psychology Association — which promotes the study of what lets people lead fulfilling lives — was house-hunting with his wife, they saw several homes with features they liked.

But unlike couples who choose a house because of its open floor plan, fancy kitchens, great light, or spacious bedrooms, Professor Diener arrived at his decision after considering hedonic-adaptation research.

“One home was close to hiking trails, making going hiking very easy,” he said in an e-mail. “Thinking about the research, I argued that the hiking trails could be a factor contributing to our happiness, and we should worry less about things like how pretty the kitchen floor is or whether the sinks are fancy. We bought the home near the hiking trail and it has been great, and we haven’t tired of this feature because we take a walk four or five days a week.”

Scholars have discovered that one way consumers combat hedonic adaptation is to buy many small pleasures instead of one big one. Instead of a new Jaguar, Professor Lyubomirsky advises, buy a massage once a week, have lots of fresh flowers delivered and make phone calls to friends in Europe. Instead of a two-week long vacation, take a few three-day weekends.

“We do adapt to the little things,” she says, “but because there’s so many, it will take longer.”

BEFORE credit cards and cellphones enabled consumers to have almost anything they wanted at any time, the experience of shopping was richer, says Ms. Liebmann of WSL Strategic Retail. “You saved for it, you anticipated it,” she says.

In other words, waiting for something and working hard to get it made it feel more valuable and more stimulating.

In fact, scholars have found that anticipation increases happiness. Considering buying an iPad? You might want to think about it as long as possible before taking one home. Likewise about a Caribbean escape: you’ll get more pleasure if you book a flight in advance than if you book it at the last minute.

Once upon a time, with roots that go back to medieval marketplaces featuring stalls that functioned as stores, shopping offered a way to connect socially, as Ms. Liebmann and others have pointed out. But over the last decade, retailing came to be about one thing: unbridled acquisition, epitomized by big-box stores where the mantra was “stack ’em high and let ’em fly” and online transactions that required no social interaction at all — you didn’t even have to leave your home.

The recession, however, may force retailers to become reacquainted with shopping’s historical roots.

“I think there’s a real opportunity in retail to be able to romance the experience again,” says Ms. Liebmann. “Retailers are going to have to work very hard to create that emotional feeling again. And it can’t just be ‘Here’s another thing to buy.’ It has to have a real sense of experience to it.”

Industry professionals say they have difficulty identifying any retailer that is managing to do this well today, with one notable exception: Apple, which offers an interactive retail experience, including classes.

Marie Driscoll, head of the retailing group at Standard & Poor’s, says chains have to adapt to new consumer preferences by offering better service, special events and access to designers. Analysts at the Boston Consulting Group advise that companies offer more affordable indulgences, like video games that provide an at-home workout for far less than the cost of a gym membership.

Mr. Cohen of the NPD Group says some companies are doing this. Best Buy is promoting its Geek Squad, promising shoppers before they buy that complicated electronic thingamajig that its employees will hold their hands through the installation process and beyond.

“Nowadays with the economic climate, customers definitely are going for a quality experience,” says Nick DeVita, a home entertainment adviser with the Geek Squad. “If they’re going to spend their money, they want to make sure it’s for the right thing, the right service.”

With competition for consumer dollars fiercer than it’s been in decades, retailers have had to make the shopping experience more compelling. Mr. Cohen says automakers are offering 30-day test drives, while some clothing stores are promising free personal shoppers. Malls are providing day care while parents shop. Even on the Web, retailers are connecting on customers on Facebook, Twitter and Foursquare, hoping to win their loyalty by offering discounts and invitations to special events.

FOR the last four years, Roko Belic, a Los Angeles filmmaker, has been traveling the world making a documentary called “Happy.” Since beginning work on the film, he has moved to a beach in Malibu from his house in the San Francisco suburbs.

San Francisco was nice, but he couldn’t surf there.

“I moved to a trailer park,” says Mr. Belic, “which is the first real community that I’ve lived in in my life.” Now he surfs three or four times a week. “It definitely has made me happier,” he says. “The things we are trained to think make us happy, like having a new car every couple of years and buying the latest fashions, don’t make us happy.”

Mr. Belic says his documentary shows that “the one single trait that’s common among every single person who is happy is strong relationships.”

Buying luxury goods, conversely, tends to be an endless cycle of one-upmanship, in which the neighbors have a fancy new car and — bingo! — now you want one, too, scholars say. A study published in June in Psychological Science by Ms. Dunn and others found that wealth interfered with people’s ability to savor positive emotions and experiences, because having an embarrassment of riches reduced the ability to reap enjoyment from life’s smaller everyday pleasures, like eating a chocolate bar.

Alternatively, spending money on an event, like camping or a wine tasting with friends, leaves people less likely to compare their experiences with those of others — and, therefore, happier.

Of course, some fashion lovers beg to differ. For many people, clothes will never be more than utilitarian. But for a certain segment of the population, clothes are an art form, a means of self-expression, a way for families to pass down memories through generations. For them, studies concluding that people eventually stop deriving pleasure from material things don’t ring true.

“No way,” says Hayley Corwick, who writes the popular fashion blog Madison Avenue Spy. “I could pull out things from my closet that I bought when I was 17 that I still love.”

She rejects the idea that happiness has to be an either-or proposition. Some days, you want a trip, she says; other days, you want a Tom Ford handbag.

MS. STROBEL — our heroine who moved into the 400-square foot apartment — is now an advocate of simple living, writing in her spare time about her own life choices at Rowdykittens.com.

“My lifestyle now would not be possible if I still had a huge two-bedroom apartment filled to the gills with stuff, two cars, and 30 grand in debt,” she says.

“Give away some of your stuff,” she advises. “See how it feels.”

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O antivoto

- Ruy Castro
Li por aí que, se você for se casar e quiser medir a intensidade da vida sexual a dois, é só reservar uma pia no apartamento do casal e, no primeiro ano de casamento, depositar nela uma bolinha de gude cada vez que fizerem amor. E, a partir do segundo ano, retirar uma bolinha cada vez que acontecer. Você ficará besta de ver como foi fácil encher a pia – e como parece difícil esvaziá-la.
Tirando o cinismo e o pessimismo, resta o realismo da observação: o ser humano é assim mesmo, capaz de banalizar o sublime. Mas a ideia de um monitoramento diário poderia muito bem ser aplicada à administração presidencial.
Funcionaria assim: encerrada a campanha, efetuada a votação, apurados os votos e empossado o vencedor, a avaliação começaria imediatamente. Uma certa quantidade de cabines eleitorais, com mesário, fiscal etc., continuaria a funcionar full-time em cada cidade, apta a receber eleitores que, arrependidos, quisessem retirar seu voto no candidato.
A apuração desses antivotos seria diária e pública, e confrontada com a votação original. Os telejornais e a internet divulgariam o resultado daquele dia: “Hoje, o presidente recebeu 94.715 antivotos, perfazendo um total de 6.211.457 antivotos depositados desde a posse por pessoas insatisfeitas com sua administração. Mas, considerando-se os 48.313.989 que recebeu ao ser eleito, ainda mantém a confortável margem de 42.102.432 votos”. Se chegar a um patamar xis de desaprovação, o presidente deverá devolver o mandato e convocar novas eleições.
Tecnologia para apurar esses milhões de votos temos de sobra. Pena que, se vier a ser aplicado, tal sistema não alcançará a eleição de Dilma, Serra ou Marina. A julgar por suas campanhas, desconfio que, em menos de dois anos, qualquer um deles, se eleito, já estaria no negativo.

sábado, 28 de agosto de 2010

QUEM SOMOS NÓS

Marcelo Rubens Paiva

Faça o teste. Pergunte para dez dos seus melhores amigos qual é o seu maior defeito. Ou pergunte para seus ex- parceiros amorosos aquilo que mais os incomodavam durante a relação.
Garanto: nenhuma resposta será parecida.
Cada um vê em você defeitos que se referem a ele mesmo, numa prática inconsciente de transferência pura. Defeitos que talvez você nem saiba que tem. E é claro que, dependendo do humor do outro no dia do pedido, a lista será como a de queixas de uma telefônica no Procon.
Há quem diga que o que nos incomoda no outro é aquilo que gostaríamos de ter, ou ser aquilo que não conseguimos. As mulheres que o digam. Por que sempre reclamam do tamanho dos seios, traseiro, nariz, calos e cabelos que herdaram, e fa- zem de tudo para transformá-los?
Que somos nós? Não somos pedras. Nem pneus. Nem insetos. Nem cometas.
“Eu é um outro”, imortalizou Rimbaud, numa carta para o ex-professor, que se tornou o documento cha-
ve para entender o mito do moleque poeta louco dentro do bom menino. Ou que um homossexualismo latente se escondia no aluno aplicado de uma França turbulenta, fedorenta e católica.
Na introspecção, acreditamos ser o que pertence a outros. Uma metade dentro de nós nos observa (ego?) e é diferente de nós. Em Kafka, um pobre coitado acreditava ser uma barata.
“Isto é evidente para mim: assisto à eclosão do meu pensamento, eu o vejo, eu o escuto, rejo com um movimento de batuta, a sinfonia faz seu rebuliço nas profundezas, ou aparece num átimo sobre o palco”, escreveu Rimbaud. O absinto deve ter batido. E era do bom.
Eu é o que você vê?Eu é o que você quer que eu seja. Ou você vê em mim o que você vê em si ou o que é?Eu sou você, você é eu? Eu e você somos um? Um você ou um eu?
Me disseram que meu gato pensa que eu sou ele, dele, para ele. Dorme grudado em mim, como se eu fosse um colchão. Mas implica com o seu rabo, como se uma cobra coral o ameaçasse. Ou será que é o rabo que pensa que é umgato?
Um exemplo simples de ser comparado é a forma como o ciumento proje
ta no outro seus vícios. O cara ou a mulher que desconfia muito do parceiro é porque apronta, diz a sabedoria de botequim. É porque se vê e desconfia de todas as desculpas.
Em qualquer manual de teoria literária, se lê que o bom personagem é o esférico, regido por conflitos e movido por contradições.
Bom personagem é o esférico, regido por conflitos e movido por contradições
Hamlet, dentro da sua loucura, e se utilizando dela, descobriu a verdade da trama palaciana o fantasma do pai contou as sacanagens do reino “podre”.
Riobaldo, cangaceiro impiedoso e fiel, apaixonou-se por outro vaqueiro antes de assistir ao filme O Segredo de Brokeback Mountain , que descobriu ser uma mulher, ao limpar seu cadáver.
Hitler, que odiava os judeus, acreditava que a união de outras raças ou etnias deveria ser combatida. Como? Por uma raça superior. Propôs exterminar uma, para solidificar a sua. Porém, nem teve filhos. Não contribuiu
para o florescer da sua teoria. Em outras proporções, os judeus, perseguidos por milênios, encontraram o seu lugar em Israel e cercaram com o Muro da Vergonha quem os ameaça, projetando guetos no formato dos em que viveram seus ancestrais; a forma que encontraram para se proteger da insana ameaça do homem-bomba, besta fundamentalista que se explode le-
vando quem estiver em volta. Edgar Hoover, o cabeça da repressão
americana, que combateu gângsteres e a Máfia, se vestia de mulher entre as quatro paredes do bunker. O macarthismo caçava comunistas e homossexuais. Paradoxalmente, o promotor assistente do senador McCarthy era um.
E se um dos motes do cristianismo foi combater a desigualdade e a riqueza, o Vaticano criou um império tão poderoso e rico, que envergonha a própria crença. A Igreja lutou contra os poderosos e a favor da brilhante ideia de sermos todos iguais perante a Deus se enriquecendo.
Combateu crenças. Perseguiu quem duvidava da sua. A Bíblia era considerada “o livro”. Só havia uma verdade, uma ciência, a da Igreja. Curiosamente, seu maior inimigo, o comunismo, propu
nha o mesmo: todos são iguais perante as forças de produção, e só existe uma verdade, a do partido.
O filósofo René Girard chama isso de Teoria da Rivalidade. Odiamos no outro aquilo que odiamos em nós mesmo.
Para ele, o mimetismo, espécie de camuflagem, é a origem da violência humana, que desestrutura e reestrutura as sociedades: quando o objeto de desejo é apropriável, a convergência dos desejos conflitantes em sua direção produz uma rivalidade mimética.
Getúlio Vargas encabeçou a revolução que acabaria com o poder da elite café com leite. Em anos, instaurou uma ditadura e lutou com os aliados pela democratização da Europa.
O Golpe de 64 colocou os tanques nas ruas para acabar com o suposto avanço comunista. Instaurou outra ditadura, apoiada pelos EUA, defensores do “mundo livre”.
É, a cabeça dá um nó, se olharmos para a História e o próprio umbigo. Espere. Será que somos um umbigo que pensa que é gente?
Jesus, preciso de umas férias. E deixar meu umbigo me levar...

sábado, 10 de abril de 2010

Em busca do homem perdido

Marcelo Rubens Paiva

Na 2.ª Guerra, os mocinhos foram para o front de batalha. No esforço de guerra, as mocinhas que queriam casar, ter filhos e esperar os maridos com a mesa pronta, de banho tomado e laquê nos cabelos, foram para as fábricas.

Acabou a guerra, o ideal do mundo livre venceu, os moços voltaram. Mas elas gostaram das carteiras assinadas, planos de saúde e aposentadoria, mundo livre e cabelos soltos.

A revolução sexual ganhou parceiros: máquina de lavar e secar, enceradeira, micro-ondas, comida congelada, creches e o universo do descartável.

Com a pílula, o controle da natalidade possibilitou, enfim, que as mulheres passassem a gerenciar carreiras e herdeiros. E assim ela se emancipou, queimou sutiãs e anáguas, conquistou espaço e exigiu um outro tipo de homem. Qual?

Em busca dele, muitos mocinhos perdem noites de sono, leem livros de autoajuda, fazem cursos de culinária e pedem conselhos aos amigos gays, de quem elas gostam tanto e afirmam "ah, se não fosse gay..."

O casal Sarte e Simone de Beauvoir radicalizou. Foi o primeiro a propor publicamente um relacionamento aberto. Ele papava quem queria, inclusive as alunas dela. E ela tinha amantes espalhados.

Na peça O Inferno Sou Eu, em cartaz em São Paulo, a dramaturga Juliana Rosenthal, que leu de tudo sobre Simone, especialmente as cartas trocadas com os amantes, descobriu uma frágil melancolia e um ciúme reprimido naquela que escrevia cartinhas de amor para a sua paixão de Chicago, o escritor Nelson Algren, como uma adolescente.

O casamento aberto seria a saída para os novos tempos? "Entre a fidelidade e a liberdade, haverá uma conciliação possível? A que preço?", filosofou Simone.

Recentemente, imaginaram que o homem moderno seria aquele ser que faz a unha, cabelo e sobrancelha, veste-se caprichosamente, usa roupas, malas e carteiras de grife, cuida da pele, tem uma barriga em que se pode lavar a roupa de baixo e é sensível, o tal metrossexual.

Fez sucesso no espelho, mas não entre a mulherada, que continua preferindo homem com pegada, nem tanto personagem de comercial de cerveja, nem tanto sujeitos que gastam mais tempo para se arrumar do que elas.

***

Há uns dias, escrevi aqui que sobre as mulheres que, depois de relacionamentos fracassados, não querem mais casar. A repercussão foi enorme: "Se o amor nos enlouquece, imagine a loucura que é ficar sem ele." "Não façam do homem uma noite sem vento, um mundo sem gravidade. Parecemos tolos e infantis, controladores e insensíveis. Mas as amamos tanto. Acaba mesmo? Comece outro. Antes que a amargura substitua o brilho dos seus olhos. E a pieguice, a rima e as metáforas sejam extintas."

Então, as belas e provocativas meninas do programa Saia Justa decidiram debater a coluna. Até me entrevistaram, pedindo explicações.

Com descrença, se perguntaram para que casar. Confirmaram a minha teoria. Maitê Proença chegou a ironizar que seu sonho é encontrar um homem especialista em problemas do lar. Um mestre de obras? Gritei do lado de cá da tela: "E o romantismo?!"

OK, com o fim das utopias, dos heróis e ideais, até ele se diluiu. Afinal, sim, o amor perfeito, como um mundo sem injustiça, é uma utopia.

A grande revolução atual é a pessoal. A da superação, qualidade de vida, hedonismo. Muitas mulheres têm preguiça até de namorar. Ou medo de sofrer? Preferem o conforto do não envolvimento.

Mulheres não são carentes como os homens. Se viram bem sozinhas. Até sem sexo conseguem tocar a vida. Mas algumas leitoras anacrônicas me escreveram, indignadas com o programa.

Ângela Gomes: "Acho que o bacana na vida é se envolver, pois como li num muro pichado, "quem não se envolve, não se desenvolve". Por isso, quero deixar aqui a minha indignação com o que as Saias Justas falaram sobre o marido de hoje. Comparar um homem a um micro-ondas, um liquidificador velho, e dizer que só valeria a pena estar com um homem que soubesse cozinhar, seria a mesma coisa que os homens se referissem a mulheres como alguém que é tão inteligente ou charmosa como uma enceradeira. Achei de muito mau gosto, feio e indelicada a forma como elas se referiram aos homens, e grosseira a forma como elas se referiram ao que você disse. Fiquei com vergonha. Então, Marcelo, saiba que não são todas as mulheres que pensam como elas, que mesmo já tendo casado ou não, com filhos ou não, ainda acreditam que vale a pena sim casar, viver com alguém, com perrengue ou sem, porque, de tudo que a gente vive, o que mais vale a pena mesmo é passar a vida em boa companhia."

Já Rachel escreveu: "O que a gente quer é amor. Homem que manda torpedo no meio da reunião séria. O frio na barriga. O sexo urgente. O braço que arrepia quando encosta no outro na cadeira do avião. A respiração profunda. O nego que desce do palco para te seguir até o banheiro. O beijo na mesa de sinuca. O cara que inventa que o happy hour do hotel é no último andar e te cata no elevador. Quero aquele que me arrepia, que me faz ter frio no estômago, que me faz perder o raciocínio enquanto converso com ele. Ele não lê os escritores de que gosto? Dou livros de presente. Ele não conhece as músicas que ouço? Gravo de presente e aproveito para mandar recados amorosos."

A pergunta não deveria ser qual homem precisamos buscar, mas como a mulher consegue conciliar a sua emancipação conosco, e nós com elas.

Continuemos homens com algumas diferenças. E que não se extingam as mulheres apaixonadas. Lembrando Cazuza: "Do amor pouco sei e quase tudo espero, amando eu me acalmo e me desespero."

domingo, 28 de março de 2010

Tempo,Tempo,Tempo

Daniel Piza

Em dia de aniversário a gente pode quase tudo: pode ganhar café na cama, sair mais cedo do trabalho, pegar a primeira fatia do bolo. Ou pode até pensar como aquela personagem da peça Três Mulheres Altas, de Edward Albee, e dizer que nesta idade estamos entre a imaturidade e a decadência, num platô de cima do qual podemos ver tudo – e quem viu Nathalia Timberg rugindo essa fala não esquece jamais. Mas a gente também pode acreditar nessas classificações da psicologia e matutar sobre a meia-idade, um termo que sugere outros igualmente melancólicos: meia-boca, meia-bomba, meia-sola… Uma vez escutei no rádio um desses sujeitos que dão conselhos para a vida profissional desaconselhando um ouvinte de 40 anos a mudar de carreira, na linha “agora é tarde, amigo” (ou então, “a vida começa aos 40: começa a terminar”). E isso numa época em que as sociedades envelhecem e a expectativa de vida não para de subir.
A sensação de idade tem a ver com o modo como se usa o tempo. A pergunta que mais me fazem, por sinal, é como arranjo tanto tempo para ler, escrever, etc. Menosprezam o fato de que esse é meu trabalho, ou seja, que as oito horas que passam trabalhando são, para mim, oito horas que posso passar lendo e escrevendo. É claro que sinto falta de tempo: queria jogar mais futebol, morar um período fora, retomar minhas aulas de alemão e piano, escrever um romance. Mais falta ainda sinto do que não pude ser: em outra encarnação, não tenho dúvida, tentaria ser cientista (biólogo, neurologista, físico?). Mas não acredito em encarnação e acho que tenho tempo para realizar boa parte daquelas vontades. Se posso repetir o chavão do “tudo passa tão rápido”, digo com mais convicção que, até aqui, eu soube aproveitar bastante bem. Corri atrás das coisas; não fiquei esperando que me dessem ou me deixassem.
Para quem ama a mulher que tem e o trabalho que faz – duas coisas raras, ainda mais simultâneas –, a vida nunca parece que está sendo desperdiçada. Os erros do passado pesam, como errar de faculdade e casar muito cedo, mas o problema não é errar, é demorar para reconhecê-los; foi por isso que dei a volta por cima em ambos. Aqui vem um ponto importante. Essas duas decisões, ou melhor, essas duas “correções de rota” aconteceram contra a opinião da maioria dos que me cercam – inclusive os amigos mais queridos, com as intenções mais altruístas. Ouvir a voz própria, sabendo arcar com as consequências, é fundamental nesses assuntos. A cultura latina, a meu ver, põe ênfase excessiva nos laços pessoais; por medo de magoar os outros, todos terminam muito mais magoados do que se tivessem uma conversa franca, educada, mas sem concessões. As questões existem em si mesmas, não são apenas projeções de nossos temperamentos e interesses, e a objetividade possível deve ser buscada.
Atribuo a isso o fato de que me dizem indiferente demais ao que os outros pensam de mim. Não é verdade. Sei meus defeitos, mas sei também que as críticas nem sempre chegam com as palavras adequadas – ser petulante não é ser arrogante, e gostar de mulheres é o contrário de gostar de enganá-las – ou com boa-fé. Quase 20 anos de prática me ensinaram a identificar quando uma resenha negativa faz questão, por exemplo, de identificar se você é jornalista, paulista, jovem… E sei que é minha cabeça que deito no travesseiro, não a dos outros. A propósito, muitas pessoas de poder na cultura e na política brasileira – produtos e produtores da mentalidade oligárquica que ainda nos governa – têm o péssimo costume de imitar a rainha de Alice e pedir as cabeças dos que as contestam. Conseguiram aqui e ali, mas sobrevivi a todos.
Qualquer um que trabalhe em comunicação, por supuesto, quer ser bem entendido. Mas não existe comunicação sem ruído. Quando comecei, me diziam que os leitores não querem saber de muito senso crítico e de assuntos supostamente sérios. A maioria só quer saber de celebridades e diversões, e mesmo os que se interessam pelos temas leem com desatenção e palpitam com furor. (Até familiares me perguntam por que não escrevo um “best-seller”, como se fosse uma fórmula e, mais importante, como se eu quisesse.) Os que não me conhecem, portanto, imaginam que sou rabugento, que não dou gargalhada vendo Didi na TV, que não sei chutar bola, etc. Estão acostumados com “intelectuais” que não sabem dirigir, só escutam música erudita e olham os outros de cima para baixo. Ou com jornalistas que não falam mal da imprensa, paulistas que não falam mal de São Paulo (afora trânsito e violência) e jovens que acham que o mundo começou quando nasceram.
Me divirto muito com tudo isso e, principalmente, me sinto satisfeito quando me dizem que leram livros como Dois Irmãos, de Milton Hatoum, Desonra, de Coetzee, Reparação, de Ian McEwan, ou que “redescobriram” Machado porque instigados pelo que comentei. Ou que gostam justamente da mistureba de assuntos que faço aqui. Todo convite que recebi foi porque leram o que escrevi, não por indicação ou “amizade”. E estou certo de que, apesar do que sempre ouço, ou do que leio na revista Brasileiros, muitos percebem que sou diferente de ídolos de juventude como Paulo Francis e H.L. Mencken. Gosto de futebol, MPB e Obama, gosto de pesquisar e não exagerar, sou ateu sem culpa, não sou preconceituoso nem engraçado. Mas aprendi com Francis e Mencken a tratar a cultura como prazer e a dizer o que penso sem medo de patrulha.
Essa curiosidade sem ansiedade, essa inquietude sem amargura, é um dos prazeres da maturidade, para os quais, talvez porque também raros, não tinham me alertado – e felizmente, pois a vantagem de não ser muito otimista é que as boas notícias são mais bem desfrutadas… Quando completou 80 anos, Bernard Shaw começou uma palestra assim: “Quando eu era mais novo, diziam que quando chegasse aos 80 iria ver. Bem, cheguei aos 80 e não vejo nada.” O discurso de autoridade pela idade é ridículo. Do alto do platô vemos muita coisa, não tudo, e vemos também que as rugas e as dobras se acumulam. Mas o que se vive é o presente, e presente melhor o tempo não nos dá. O tempo não voa nem se arrasta: é o indivíduo que escolhe seguir em pé. Agora, ao café e ao bolo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Rubem Braga

Não sei o nome desse poeta, acho que boliviano; apenas lhe conheço um poema, ensinado por um amigo. E só guardei os primeiros versos: Trabajar era bueno en el Sur. Cortar los árboles, hacer canoas de los troncos.
 E tendo guardado esses dois versos tão simples, aqui me debruço ainda uma vez sobre o mistério da poesia.
O poema era grande, mas foram essas palavras que me emocionaram. Lembro –me delas às vezes, numa viagem; quando estou aborrecido, tenho notado que as murmuro de tédio urbano. E elas produzem em mim uma espécie de consolo e de saudade não sei de quê.
 Lembrei-me agora mesmo, no instante em que abria a máquina para trabalhar nessa coisa vã e cansativa que é fazer crônica.
 De onde vem o efeito poético? É fácil dizer que vem do sentido dos versos; mas não é apenas do sentido. Se ele dissesse: Era Bueno trabajar, era bueno,Sur, cortar, árboles, hacer canoas, troncos.
 Isso me lembra um dos maiores versos de Camões, todo ele também com as palavras mais corriqueiras de nossa língua:
 “A grande dor das coisas que passaram.”
Talvez o que impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia. Nesse poema sul-americano a idéia da canoa é também um motivo de emoção.
Não há coisa mais simples e primitiva que uma canoa feita de um tronco de árvore; e acontece que muitas vezes a canoa é de uma grande beleza plástica. E de repente me ocorre que talvez esses versos me emocionem particularmente por causa de uma infância de beira-rio e de beira-mar. Mas não pode ser: o principal sentido dos versos é do trabalho, um trabalho que era bom, não essa “necessidade aborrecida” de hoje. Desejo de fazer alguma coisa simples, honrada e bela, e imaginar que já se fez.
Fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas modernos que procurem esse mistério enunciando coisas obscuras, o que dá margem a muito equívoco e muita bobagem. Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco das águas, elas fiquem mais profundas...

sábado, 9 de janeiro de 2010

Sobrevivencia em tempo de crise

Resumo do livro " Survivre aux Crises" de Jacques Attali
Os 7 principios estrategicos.

1) Respeitar a si mesmo : ser o ator, nem otimista nem pessimista, do seu proprio futuro. Para tal, não contar com ninguem, a não ser consigo mesmo.

2) Intensidade : capacidade de se elevar para olhar a distância. Se projetar no tempo, visualizar um objetivo para daqui à vinte anos.

3) Empatia : saber se colocar no lugar dos outros, sejam adversarios ou aliados potenciais.

4) Resiliência : capacidade de resistir aos choques - mentalmente, moralmente, fisicamente, materialmente e financeiramente.

5) Criatividade : saber transformar a adversidade em oportunidade.

6) Ubiquidade : capacidade de representar varios papeis ao mesmo tempo.

7) Pensamento revolucionario : se nada disto funcionar, agir em legitima defesa. Contra o mundo, transgredindo as regras do jôgo sem perder a auto-estima.

Não adie seu encontro com a espiritualidade

Mario Sergio Cortella

 Na juventude, o filósofo Mario Sergio Cortella experimentou a vida monástica em um convento da Ordem Carmelitana Descalça. Durante três anos, aprendeu a viver em comunidade, a não ter propriedades, a guardar silêncio. Abandonou a perspectiva de ser monge – mas não a espiritualidade – para seguir a carreira acadêmica. Hoje, com 55 anos, é professor universitário de educação, conferencista em instituições públicas, empresas e ONGs, comentarista em vários órgãos da mídia e autor de 10 livros, que prefere chamar de “provocações filosóficas”
José Tadeu Arantes
Revista Claudia – 12/2009

Sempre é tempo de balanço, de rever trajetórias, de refazer escolhas. Fim de ano nos chama especialmente para isso. Em meio à correria das compras, dos encontros, dos comes e bebes, conseguimos um intervalo para a reflexão? Para nos perguntar: afinal, o que estamos fazendo nesta vida? O filósofo Mario Sergio Cortella tem levado esse tema a vários ambientes. Professor da Pontifícia Universidade Católica e da Fundação Getulio Vargas, ambas em São Paulo, e da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte, ele foi discípulo do educador Paulo Freire e atuou como secretário municipal de Educação de São Paulo. "Minha pretensão não é dar respostas, mas elementos para as pessoas formularem melhor suas perguntas", disse no início da entrevista.

Em época de Natal, a sensação é de que há algo a mais na atmosfera. Para uns, é encantamento, elevação. Para outros, apenas nervosismo, que se traduz em febre de consumo, excessos alimentares e conflitos interpessoais. Existe lugar para a espiritualidade em meio a tanta agitação?
Em algumas situações, aquilo que chamamos de espírito de Natal" é algo cínico, que agrega os indivíduos em torno de festividades de conveniência. Mas há muitas pessoas que, independentemente de serem cristãs ou não, têm, nesta época do ano, uma verdadeira experiência do "comemorar". Gosto dessa palavra porque "comemorar" significa "lembrar junto". E do que nós lembramos? De que estamos vivos, partilhamos a vida, de que a vida não pode ser desertificada.

Há uma pulsão de vida.
Claro que, a todo instante, está colocada também a possibilidade de que a vida cesse. Somos o único animal que sabe que um dia vai morrer. Aquele gato, que dorme ali, vive cada dia como se fosse o único. Nós vivemos cada dia como se fosse o último. Isso significa que você e eu, como humanos, deveríamos ter a tentação de não desperdiçar a vida. Escrevi um livro chamado Qual É a Tua Obra?, que começa com uma frase de Benjamin Disraeli, primeiro-ministro britânico no século 19. Ele disse: "A vida é muito curta para ser pequena".

Como não apequenar a vida?
Dando-lhe sentido. A espiritualidade ou religiosidade é uma das maneiras de fazê-lo. A religiosidade, não necessariamente a religião. Religiosidade que se manifesta como convivência, fraternidade, partilha, agradecimento, homenagem a uma vida que explode de beleza. Isso não significa viver sem dificuldades, problemas, atribulações. Mas, sim, que, apesar disso tudo, vale a pena viver. Meu livro Viver em Paz para Morrer em Paz parte de uma pergunta: "Se você não existisse, que falta faria?" Eu quero fazer falta. Não quero ser esquecido.

Fale mais da diferença entre religiosidade e religião.
Religiosidade é uma manifestação da sacralidade da existência, uma vibração da amorosidade da vida. E também o sentimento que temos da nossa conexão com esse mistério, com essa dádiva. Algumas pessoas canalizam a religiosidade para uma forma institucionalizada, com ritos, livros - a isso se chama "religião". Mas há muita gente com intensa religiosidade que não tem religião. Aliás, em minha trajetória, jamais conheci alguém que não tivesse alguma religiosidade. Digo mais: nunca houve registro na história humana da ausência de religiosidade. Todos os primeiros sinais de humanidade que encontramos estão ligados à religiosidade e à ideia de nossa vinculação com uma obra maior, da qual faríamos parte.

De onde vem essa ideia?
Existe uma grande questão que é trabalhada pela ciência, pela arte, pela filosofia e pela religião. A pergunta mais estridente: "Por que as coisas existem? Por que existimos? Qual é o sentido da existência?" Para essa pergunta, há quatro grandes caminhos de reposta: o da ciência, o da arte, o da filosofia e o da religião. De maneira geral, a ciência busca os comos". A arte, a filosofia e a religião buscam os "porquês", o sentido. A arte, a filosofia e a religião são uma recusa à ideia de que sejamos apenas o resultado da junção casual de átomos, de que sejamos apenas uma unidade de carbono e de que estejamos aqui só de passagem. Como milhões de pessoas no passado e no presente, acho que seria muito fútil se assim fosse. Eu me recuso a ser apenas algo que passa. Eu desejo que exista entre mim e o resto da vibração da vida uma conexão. Essa conexão é exatamente a construção do sentido: eu existo para fazer a existência vibrar. E ela vibra em mim, no outro, na natureza, na história.

Existe também a religiosidade que quer beber diretamente na fonte, que busca a relação sem mediações com o divino.
O divino, o sagrado, pode ganhar muitos nomes. Pode ser Deus no sentido judaico-cristão-islâmico da palavra; pode ser deuses; pode ser uma vibração, uma iluminação. Independentemente de como o denominamos, há algo que reconhecemos como transcendente, que ultrapassa a coisificação do mundo e a materialidade da vida, que faz com que haja importância em tudo o que existe. Desse ponto de vista, não basta que eu me conecte com os outros ou com a natureza. Preciso fazer uma incursão no interior de mim mesmo, em busca da vida que vibra em mim e da fonte dessa vida. É essa fonte que alguns chamam de Deus. A conexão com essa fonte é aquilo que os gregos chamavam de sympatheia, que significa simpatia. Trata-se de buscar uma relação simpática com o divino.

Como você busca essa relação?
De várias maneiras. Às vezes, na forma de um agradecimento. Às vezes, na forma de um pedido. Às vezes, por meio de uma oração consagrada pela tradição - porque, como dizia Mircea Eliade, o maior especialista em religião do século 20, "o rito reforça o mito". Às vezes, recorrendo a um gesto espontâneo. Outro dia, eu estava em uma cidade litorânea, onde iria palestrar. Em frente ao hotel, havia uma praia. Caminhando descalço sobre a areia, às 5 e meia da manhã, sentindo o sol que nascia, me veio um forte sentimento de gratidão e rezei, em silêncio, uma oração, das consagradas. Já ontem, eu estava reunido com a família em volta da mesa. Diante da cena dos meus filhos com as esposas, novamente senti gratidão. Ergui a taça de vinho e brindei em agradecimento por aquele momento. Nem sempre a minha relação é de gratidão. Às vezes, é de apelo. Na crença, verdadeira para mim, de que a fonte de vida pode reforçar a minha capacidade de viver, eu peço.

Existe, hoje, um maior impulso para a espiritualidade ou trata-se apenas de mais uma onda passageira?
Guimarães Rosa disse que "o sapo não pula por boniteza, pula por precisão". De acordo com o headhunter e professor de gestão de pessoas Luiz Carlos Cabrera, a grande virada no mundo empresarial brasileiro ocorreu, de fato, no dia 31 de outubro de 1996 às 8h15, quando um avião da TAM, com 96 pessoas a bordo, todos eles executivos, exceto a tripulação, caiu sobre a cidade de São Paulo. Perdi dois amigos de infância nesse acidente. Aquele foi um momento de inflexão no mundo corporativo. Eu compartilho dessa opinião. As pessoas começaram a pensar: eu podia estar naquele voo e o que eu fiz até agora? Toda a ânsia que caracteriza o mundo corporativo, focada no lucro, na competitividade, na carreira, começou a ser relativizada.

Mas existem também fatores de fundo, que afetam o mundo.
É claro. Um fator, talvez o principal, foi que o século 20, apostando na ciência e na tecnologia, nos prometeu a felicidade iluminada e ofereceu angústia. Em prol da propriedade, sacrificou-se a vida, a convivência, a consciência. O stress tornou-se generalizado, afetando adultos, jovens e até as crianças. Há uma grande diferença entre cansaço e stress. O cansaço resulta de um trabalho intenso, mas com sentido; o stress, de um trabalho cuja razão não se compreende. O cansaço vai embora com uma noite de sono; o stress fica.

Há uma forte cultura da pressa e da distração.
A tecnologia nos proporcionou a velocidade. Mas, em vez de usá-la apenas para fazer as coisas rapidamente, nós passamos a viver apressadamente. Assim como existe uma grande diferença entre cansaço e stress, existe também entre velocidade e pressa. Eu quero velocidade para ser atendido por um médico, mas não quero pressa durante a consulta. Quero velocidade para ser atendido no restaurante, mas não quero comer apressadamente. Quero velocidade para encontrar quem eu amo, mas não quero pressa na convivência. Tempo é uma questão de prioridades. Muita gente argumenta não ter tempo para a espiritualidade, para cuidar do corpo. E segue nesse ritmo apressado até sofrer um infarto. Se não for fatal, o infarto funciona como um sinal de alerta. O dia continua a ter 24 horas, mas quem sobrevive passa a acordar uma hora mais cedo para caminhar e se exercitar. O impulso espiritual também é um sinal de alerta. Não há pressa em segui-lo. Mas cuidado: é muito arriscado adiar indefinidamente para o ano que vem.
 

Religião as pessoas podem ter ou não. Já a religiosidade é um elemento estruturante da existência

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"É melhor ser desprezado por viver com simplicidade do que ser torturado por viver em permanente simulação." (Sêneca)

E complemento dizendo que pior ainda é não desejar ou não se permitir ver a Vida por outro ângulo e se torturar mantendo uma simulação de Ser realizado. Mais ou menos que nem a estória do cachorro que se deita sempre em cima de um mesmo prego, sem reclamar, pois a casinha é confortável e ao menos lá dentro não chove...
Isso é terrível... Coisas que tentamos salvar muitas vezes não merecem ser salvas.
Eu adoro citações, embora confesse que, Santo Google, algumas vezes não saiba muito sobre o autor em questão. Não é o caso dessa vez e tem se tornado cada vez mais raro não saber nada sobre determinado suposto autor. Foi assim que surgiram nomes que passaram a fazer parte da minha memória e em tempos de rapidez no acesso à informação só não aprende quem não tem banda larga... Além disso eu leio muitos livros, sobre tudo o que me interessa e também sobre algum assunto que não me interesse tanto. Penso que preciso saber sempre mais e incentivo as pessoas a fazerem o mesmo. Saber não ocupa espaço. É do meu perfil essa coisa do conhecimento.
E foi esse o foco da minha Vida em 2009 - estudar, ler e pesquisar, fazer cursos que me trouxessem uma nova visão de mundo. Buscar compreender o outro. Em especial no segundo semestre quando passei a ter mais tempo para mim, após me desligar de um emprego que vinha há algum tempo me consumindo a doçura e o prazer dos dias.
Nesse aspecto 2009 foi espetacular.
Penso que quando a gente se propõe a ampliar a nossa visão do mundo, buscando a compreensão de pontos de vista discordantes, começa a perceber que há muito mais do que se imagina e se questionar o quanto desnecessário pode ser argumentar as nossas supostas verdades. Ou rebater os argumentos dos outros... Que essas divergências podem ser complementares ao nosso modelo de Vida.
Se eu estiver sempre com as mesmas pessoas, fazendo as mesmas coisas, por mais que goste delas, acabo fadado a estagnação. E essa palavra me dá calafrios. Quando a gente busca sair da zona de conforto é um bom sinal. E infelizmente conheço muita gente que cristalizou, faz as mesmas coisas há décadas e está cada dia mais infeliz, reféns que se tornaram de si mesmas. Mas que muitas vezes não admitem isso...
É do meu perfil gostar de conhecer pessoas novas. E é uma habilidade que tenho encontrar o tom certo ao tratá-las. Nem sempre acerto, é lógico, muitas vezes dou foras homéricos e erro feio. Tenho várias tribos, em algumas sou eu mesmo e nas outras também. Pois o "eu mesmo" tem muitas faces, todas reais.
Nem sempre encanto, às vezes espanto com a minha visceralidade, mas como disse um amigo uma vez: "Passar pelo Henrique e não ampliar a visão de mundo é impossível".
Ame-me ou deixe-me em paz, pois é também do meu perfil me enjoar de algumas pessoas. Perdeu minha admiração já elvis! E esse meu enjoar pode demorar quinze minutos ou vinte anos. Nada é para sempre. De tempos em tempos faço mesmo uma limpa, uma limpa no armário me livrando de roupas que usei no passado e que não me caem mais bem. Assim livro cabides para roupas novas e que reflitam o meu momento atul. Da mesma forma uma limpada na agenda de vez em quando vai bem.
E 2009 foi um ano de rever com quem eu quero estar. Deixei de ira a festas por não querer estar com aquelas pessoas, deixei de ligar para quem não me importa mais, deixei de lado aquele aborrecido tom do politicamente correto, liguei o foda-se e segui meu caminho, deixei para trás hábitos que não condizem mais com o cara que sou hoje.
Isso é evolução. Esse ano foi um ano de surpresas, algumas bem doloridas, mas foi um ano de reiterar o "eu sou".
E por conta dessas e de outras estarei entrando em 2010 melhor do que entrei em 2009. Que já foi melhor que 2008. Estou com a alma mais leve, com bem menos culpas e com poucos, bem poucos rancores. Embora aos olhos dos descartados eu seja o rancor em pessoa.
E essa limpeza mental me faz crer que serei amado por muita gente em 2010.
Escrito por Tiago